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Chico Mendes foi morto pela sua luta contra o desmatamento e por reivindicar condições de trabalho para os seringueiros

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Chico Mendes aprendeu o ofício de seringueiro com o seu pai. ¹ – Foto: Reprodução

Em 15 de dezembro de 1944, no seringal Porto Rico, na cidade de Xapuri, bem perto da fronteira do Acre com a Bolívia, nascia Francisco Alves Mendes Filho. Chico Mendes, como é conhecido, era filho de seringueiro e passou sua infância e juventude ao lado do pai praticando a profissão.

Ele aprendeu a ler somente no início da fase adulta, mas isso já era um feito, se comparado aos demais seringueiros de Xapuri, em sua maioria analfabetos. Chico Mendes era vizinho do refugiado político Euclides Fernandes Távora, que alfabetizou o jovem seringueiro e teve grande influência na vida dele.

Por ser mais instruído que os demais seringueiros, Chico Mendes passou a questionar os problemas que envolviam a região. A extração da borracha como atividade econômica na Amazônia sempre gerou conflitos, já que na maioria das vezes ela estava baseada em relações de grande exploração. Em muitos casos, funcionava por meio do sistema de troca de mercadorias industriais pelo produto extrativo, o aviamento, criando uma sociedade com miséria e endividamento constante.

Em seu meio de trabalho, havia um rígido regulamento de subordinação entre seringalistas e os donos dos seringais, castigando severamente aqueles que ousassem desrespeitar o sistema. Conflitos eram “abafados” pela violência de forças policiais.

No regime militar, a política implantada na região Amazônica gerou grandes conflitos fundiários no Acre, fazendo com que a situação fosse muito crítica na década de 1970. A substituição da borracha pela pecuária motivou a especulação fundiária e o desmatamento de grandes extensões de terras, impedindo a permanência dos seringueiros na floresta.

Sindicato e ativismo

Diante desse cenário, surgiram os primeiros sindicatos de seringueiros no Acre, e Chico viu a necessidade de fazer algo para mudar a realidade dos seringais. Assim, em 1975, tornou-se membro da diretoria do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia, o primeiro criado no Acre, e que era presidido por Wilson Pinheiro.

Em 1976, Chico e demais seringueiros, sob a liderança de Pinheiro, reuniam suas famílias e iam para as áreas ameaçadas de desmatamento, onde desmontavam os acampamentos dos peões e paravam as motosserras. Esse ato de resistência era chamado de“empates às derrubadas”.

A liderança de Wilson Pinheiro incomodou latifundiários da região, que o assassinaram em 21 de julho de 1980. A morte de Wilson fez surgir um novo líder. Em 1983, Chico Mendes foi eleito presidente do STR de Xapuri e intensificou a luta pelos direitos dos seringueiros, além da defesa da floresta e a luta política contra a ditadura.

Luta ideológica e pelos direitos humanos

Chico é um dos maiores ícones da luta pela preservação da Amazônia.² – Foto: Reprodução

O seringueiro tinha uma tese baseada em sua convivência e conhecimento da floresta e natureza, e que, mais tarde, realmente foi comprovada, que os benefícios derivados da manutenção da floresta são maiores do que o valor obtido com a sua derrubada.

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Com essa ideologia formada pelo sindicalismo, pautada na defesa dos direitos humanos e pelo respeito à floresta, fizeram com que Chico Mendes fosse reconhecido como um líder político, conquistando respeito internacional.

Chico liderou a organização do 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em 1985, onde mais de 100 seringueiros criaram um Conselho Nacional, entidade representativa e que elaborou a proposta original de reforma agrária, com as Reservas Extrativistas.

Ameaças e morte
Mesmo conquistando o respeito internacional, Chico Mendes vivia sob ameaças de ruralistas. Os embates continuavam e geravam, inclusive, prisões, já que a regularização dos conflitos fundiários não era concretizada.

Em 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado quando ia ao banheiro nos fundos de sua casa. Ele foi morto com um tiro de escopeta no peito, na frente da esposa e dos dois filhos, aos 44 anos.

Chico Mendes em frente a casa onde morou e foi assassinado. ³ – Foto: Reprodução

Chico Mendes foi assassinado por Darci Alves, a mando de seu pai, Darly Alves, um grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil. Sua morte repercutiu no mundo inteiro, causando grande indignação e revolta, refletindo também no Brasil, já que, até então, ele era ignorado pela imprensa brasileira.

A pressão da imprensa e da opinião pública fizeram Darly, Darci e um irmão do fazendeiro, Alvarino Alves da Silva (sua participação nunca foi comprovada), serem julgados por júri popular. Pai e filho foram condenados à prisão em 1990, com pena de 19 anos, fato considerado inédito na justiça rural no Brasil.

Darly e Darci fugiram da prisão em 1993 e só foram recapturados em 1996. Em 1999, Darly saiu do presídio para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar, por problemas de saúde, de acordo com alegações de seus advogados. Darci, no mesmo ano, ganhou o direito de cumprir o restante da pena em regime semiaberto.

Em 2013, já solto e vivendo em Xapuri, Darly concedeu uma entrevista na qual afirmou ser vítima de uma condenação injusta. “Quem falasse contra mim ganhava prêmio, então podiam mentir à vontade. Quando chegava alguém para me defender, o juiz batia o martelo e mandava me retirar da sala. Só queriam a minha condenação”. Darci cumpriu o regime semiaberto em Xapuri e depois mudou-se para Brasília. Atualmente, é pastor evangélico.

Veja o Vídeo:

Genésio – a testemunha

Entre os depoimentos considerados como cruciais para a condenação dos grileiros está o de Genésio Ferreira da Silva. Na época com 13 anos, Genésio trabalhava na fazenda de Darly e ouviu todo o planejamento do crime.

Por causa de ameaças de morte, Genésio teve que se mudar de Xapuri e viu sua vida ser transformada depois da morte do líder dos seringueiros. Um documentário produzido em 2018, pela Amazônia Real, mostra a vida de Genésio antes e depois do assassinato de Chico Mendes.

Legado de Chico Mendes

No mesmo ano da morte de Chico Mendes, as primeiras reservas extrativistas foram criadas. O sonho de uma floresta valorizada, sem conflitos e com perspectiva de futuro aos filhos dos seringueiros e extrativistas, finalmente, foi realizado.

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Pode-se afirmar que o principal legado de Chico Mendes são as Reservas Extrativistas, que representam a primeira iniciativa de conciliação entre proteção do meio ambiente e justiça social, antecipando o conceito de desenvolvimento sustentável que surgiu com a Rio 92.

Instituto Chico Mendes de Conservação Biodiversidade – ICMbio

Em 28 de agosto de 2007, pela Lei 11.516, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, uma autarquia em regime especial e vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e que integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). O Instituto executa as ações do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (UC), podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as UCs instituídas pela União.

Cabe também ao órgão captar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das Unidades de Conservação federais.

Reconhecimento internacional

Em 1987 foi lançado o documentário “Eu Quero Viver”, que mostra a luta de Chico Mendes para proteger a floresta e os direitos dos trabalhadores. Produzido pelo cinegrafista inglês Adrian Cowell, ele foi divulgado internacionalmente.

Entre 1987 e 1988, Chico Mendes ganhou o Global 500, prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU), na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, nos Estados Unidos, dando entrevistas aos principais jornais do mundo. Posteriormente, diante disso, jornalistas e pesquisadores o visitaram nos seringais e difundiram suas ideias pelo planeta.

Documentário

Quer saber mais sobre a vida de Chico Mendes? A TV Brasil produziu uma videorreportagem sobre a luta e o legado de um dos maiores ícones de defesa da Amazônia.

Veja o Vídeo:

Créditos das imagens:

¹Crédito: Miranda Smith, Miranda Productions, Inc. / Wikimedia Commons

²Crédito: Miranda Smith, Miranda Productions, Inc. / Wikimedia Commons

³Crédito: Miranda Smith, Miranda Productions, Inc. / Wikimedia Commons

Publicado por Érica Caetano
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Mais 87 áreas são incluídas no programa de conservação ambiental. Regiões estão localizadas no Amapá, Amazonas e Pará

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O programa oferece incentivo financeiro para produção sustentável a famílias que moram nessas regiões – Foto: Tânia Rego/Agência Brasi

(MMA) – Mais 87 áreas foram incluídas no Programa de Apoio à Conservação Ambiental, o Bolsa Verde. Coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a iniciativa prevê pagamentos trimestrais de R$ 600 às famílias que vivem em projetos de assentamento ambientalmente diferenciados, unidades de conservação de uso sustentável e em territórios ocupados por povos e comunidades tradicionais, como ribeirinhos, extrativistas, indígenas, quilombolas e outros.

Os territórios com famílias aptas a integrar o programa estão em 29 municípios dos estados de Amapá, Amazonas e Pará. Para participar, os participantes se comprometem a preservar o ambiente em que vivem, cuidando da região e usando os recursos naturais de maneira responsável. Os beneficiários também terão acesso a ações de assistência técnica, extensão rural socioambiental, conservação ambiental e inclusão socioprodutiva.

Retomado em 2023, o Bolsa Verde une a cidadania com a preservação do meio ambiente, melhorando a qualidade de vida e aumentando a renda das famílias. Um dos seus principais objetivos é o incentivo à conservação dos ecossistemas, com manutenção e uso sustentável. O Bolsa Verde é visto como política estratégica na proteção dos recursos naturais, na redução da pobreza e no fomento ao desenvolvimento sustentável do país.

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O acesso das famílias é realizado em nome do responsável familiar inscrito no CadÚnico através do site bolsaverde.mma.gov.br/cidadão .

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima vai realizar durante esta semana, de 15 a 19 de abril, a segunda fase da busca ativa para o Bolsa Verde. A ação tem como objetivo incentivar a adesão de famílias agroextrativistas ao programa. Durante essas atividades, serão apresentadas as condições para participação no programa e realizadas reuniões de articulação com líderes agroextrativistas, autoridades municipais e outras organizações da sociedade civil com envolvimento direto ou indireto no programa.

Nesta segunda-feira (15/4), a oficina será em Belém, no Pará, direcionada a profissionais do Cadastro Único (CadÚnico) e das secretarias de meio ambiente de 30 municípios do estado. Nos dias 18 e 19 de abril, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), as atividades serão nos municípios de Breves e Melgaço, na região do Marajó, como parte da Caravana Brasil Sem Fome, destinada a profissionais municipais e líderes agroextrativistas.

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O programa é coordenado pelo MMA e acompanhado por um Comitê Gestor, composto por MMA, Casa Civil, MDS; MDA; Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI); Ministério da Fazenda; ICMBio; Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); e dois representantes do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT).

O MMA também destaca a importância desses órgãos na participação das atividades para promover o diálogo com os povos e comunidades tradicionais beneficiários do programa e contribuir para alcançar os objetivos da política ambiental.

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